quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Contos à Rentrer I

Lembro-me da época em que ganhei meu terceiro braço.
No começo pareceu-me artificial, anti-natural, grotesco até. Mas com o tempo fui me acostumando a esse útil membro extra, sempre disposto a auxiliar nas tarefas de meu dia-a-dia, que, como meus íntimos bem sabem, não são nem um pouco simples.

Eu o chamava e lá estava ele: pingando como um cão à espera de seu dono. Podia sentir as juntas enrijecidas pelo prazer antecipado de servir a seu mestre. A pele branca, ligeiramente azulada, brilhava de êxtase e contentamento em ser útil.
Fazia chuva, fazia sol, lá estava eu com meu companheiro inseparável em minha mochila. Mantinha o zíper aberto, orgulhoso como eu era, para dar-lhe a chance de acenar, sua mão endurecida numa posição tão amigável e calorosa.
Ah! Abençoado eu era! Quem poderia adivinhar que ganharia companheiro tão inseparável de forma tão inesperada?

Um aceno um pouco antes de atravessar a entrada da Bandeirantes. "Ah, mas que pouco educado! Venha cá e aperte minha mão!", enquanto o caminhão fazia a curva à toda. E em meio segundo lá estava meu novo braço, ainda preso ao cumprimento, enquanto meu amigo passeava em algum pára-brisa...