domingo, 1 de março de 2009

Aliste-se!

Imagine um distinto cidadão. Seu nome poderia ser algo entre Arnaldo e Jair.
Como todo distinto cidadão, ele tem um bom emprego burocrático numa boa firma burocrática, uma boa mulher dona de casa e dois bons filhos com boa educação em um bom colégio particular.
Sua idade pode ser, caso vocês queiram, por volta dos 28 e 34 anos.
Facilitando, o proclamo com 31 anos, casado há 12 e pai há 9.

Esse jovem cidadão Arnaldo (ou Jair) reencontra-se, num determinado dia, com um velho amigo de infância, cujo nome e cuja idade não dizem respeito a nenhum de vocês.
Digamos que, por exemplo, eles se cruzaram na fila para sacar dinheiro ou entre as prateleiras do mercadinho local.
A partir daí, passam a se encontrar frequentemente para um café após o horário de serviço (deve-se notar, porém, que o amigo de infância de Arnaldo [ou Jair] não tem um emprego fixo e burocrático. Note-se que a verdadeira função trabalhista deste amigo em questão é uma incógnita para Arnaldo [ou Jair]).

Após um determinado momento, esse amigo em questão passa a discorrer, primeiramente de forma cautelosa, depois com empolgação, sobre sua particular visão de mundo (note-se, a visão de mundo do amigo em questão).
Arnaldo (ou Jair) não consegue evitar sua curiosidade e interesse crescentes nessas conversas, que se tornam cada vez mais frequentes.

O fato é que a visão de mundo do Amigo em Questão é completamente diferente da forma com que Arnaldo (ou Jair) levou sua vida até então.
Adiciono, inclusive, que é tão agressivamente contrastante que Arnaldo (ou Jair) não consegue evitar, de forma paradoxal, a atração que sente por essa nova "filosofia".

Pouco a pouco, os valores até então cultivados por Arnaldo (ou Jair) vão sendo despedaçados, minuto a minuto, durante cada conversa.
(Os detalhes destas conversas não serão tratados por respeito à sanidade mental dos queridos leitores)
Na verdade, ao mesmo tempo que a atração de Jair (ou Lucas) cresce, uma secreta raiva passa a ser cultivada pelo Amigo em Questão.

No entanto, Lucas (ou Arnaldo) não tem a força necessária, ou o apego moral necessário, para dar fim a sua corrosiva e auto-destrutiva amizade. Ao contrário de Anna Rosa (vide Um, Nenhum e Cem Mil de Luigi Pirandello, publicado em português pela editora Cosac Naify em 2001...São Paulo), Arnaldo (ou Jair) não tem coragem nem para atitudes drásticas e desesperadas. Isso acontece por conta da característica predisposição de Rodrigo (ou Josefo) a ser...gado. Faltava-lhe qualquer forma de força em sua personalidade. Os motivos para a existência dessa falta são uma incógnita, mas acredito que os leitores conseguirão pensar em pelo menos 7.
Então, pouco a pouco, Ricardo (ou Messias) se vê numa espiral cada vez mais profunda de desespero, loucura e destruição de toda a vida com que havia se habituado, toda a segurança que havia arquitetado e todos os valores pelos quais havia sentido admiração.

Após menos de um mês e meio, Arnaldo (ou Jair) se viu sem emprego, sem filhos, sem mulher, sem apartamento (que por sinal ficava em Alphaville)....e sem seu Amigo em Questão.

Eu posso jurar, pois estava comendo sua mulher e vi tudo acontecendo de perto.




Na verdade, eu era o Amigo em Questão.

E eu vou foder com você também.