terça-feira, 14 de abril de 2009

Quase dois anos depois...

Domingo ganhei um ovo de páscoa.
Dentro dele, um sapo gordo e meio azulado me encarava, com um grande sorriso no rosto. A brancura de seus dentes era tão intensa, que pequenos reflexos passeavam pelo meu rosto enquanto comia o chocolate e meu novo amigo me encarava, imóvel.

Tais reflexos lembravam-me de algumas cenas de um passado distante, e não pude deixar de pensar na cabeça de boneca, que ainda sangra sobre o criado mudo de meu quarto.
Ela já foi a representação de uma era em minha vida, e agora parece ser substituída por um sapo gordo, sorridente e azulado.
"hora de dar fim à cabeça de boneca", pensei, enquanto quebrava mais um pedaço do chocolate, sentindo-me hipnotizado pelos dentes impecáveis de meu amigo, que continuava imóvel no meio do centro oco do ovo.

Não só isso, como também, pouco a pouco, comecei a perceber que algo se perdeu dentro das matizes de concreto das minhas veias. O piche, que antes era bombeado com força, começa a perder a ansiedade e passa a circular por Tédio.

O fim de um período.

Guardo ovo e sapo na geladeira.
Acaricio pela última vez os cabelos artificiais da cabeça de boneca, enquanto seus pequenos olhos tremem.
Aos poucos, aumento a pressão da mão, sentindo o látex rasgar.

E já trocaram o carpete de madeira do meu quarto.

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