domingo, 22 de julho de 2007

O Jardineiro

"As chaves", ela pediu mais uma vez, sorrindo. Os dentes cor de ouro lançando reflexos de uma luz suja contra o seu rosto contorcido. "Caído aos pés de uma mulher", ele pensou em silêncio, enquanto a pressão de sucuri aumentava gradativamente contra seu saco.

As pontadas de dor aumentando cada vez mais, a ponta do salto numa luta para penetrar o ponto mais frágil de seu corpo. "Eu só quero a chave", ela insistiu, sua voz de sereia/guerreira, torcendo o calcanhar do pé e aumentando mais seu sorriso dourado. "Talvez seja hora de trocar essa lâmpada", o pensamento mais absurdo passando por sua cabeça, a dor lancinante barrando sua razão e ativando os antigos controles do desespero, enterrados durante tanto tempo desde que perdera seu coração.

Ele procurou alcançar o bolso de trás de sua calça, mas o esmalte vermelho descascado das garras da mulher foi enterrado fundo na carne de seu pulso: "eu só vou repetir mais uma vez, antes de estourar suas bolas", ela disse, aumentando assustadoramente a pressão.

Ele a conhecera no canto mais sujo da cidade, jogada entre dejetos de mendigos, uma pequena flor que necessitava de cuidado e atenção. E a havia regado, ah como havia!, com todo o carinho que seu peito oco poderia oferecer. O batizado havia sido feito exatamente naquele local, naquele pequeno apartamento, e ela rapidamente evoluíra de uma pequena muda para uma mulher madura, que o estava ameaçando agora com o salto de seu scarpin.
"Malditas plantas", ele pensou e hesitou mais uma vez, já anestesiado, enquanto sentia o pisão e a vista escurecia.



Três horas mais tarde, acordou com as calças ensangüentadas, jogado naquele beco familiar, aquele pedaço de lixo urbano.

4 comentários:

Anônimo disse...

Não sei se meu nome está bastante cult e hermético para o seu gosto, mas....
So posso dizer q mais uma vez surpreendeu, a faceta poeta do Thi eu não conhecia.
Adorei os textos! Mas sinceramete acho vc melhor nas poesias.
Bjussss

Anônimo disse...

aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii(!)

Anônimo disse...

ah, e mentira isso aí...prosa muito apetitosa, olha que ritmo, que fuidez!

Anderson Lucarezi disse...

Da hora, thib!
tô gostando mesmo dos textos, sem rasgação de seda!
Cê faz poemas tb? publica algum, qq hora!
abraço!