quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Esponja

Engoli o comprimido sem pensar. "foda-se"
"é como nanorobôs triturando neurônio por neurônio do seu cérebro e reconstruindo no formato de uma montanha russa."
"ah..."

Fui buscar mais uma cerveja, enquanto esperava algum efeito ridículo de euforia daquela porcaria Sintética. Quando voltei para a pista, segurando a Long Neck de Eisenbahn, senti as pupilas dilatando nervosamente. E então tudo o que fazia sentido eram as bocas. As bocas vermelhas, as bocas pálidas, os lábios carnudos e os lábios finos e retos. As bocas para fora, como bicos, e as bocas para dentro, Ressecadas como cadáveres. Todas as bocas ocupavam o centro da minha Visão, armada como uma Teia.
As bocas estavam em todos os lugares, beijando, bebendo, falando. Cada boca aberta era uma Projeção Egocêntrica. Cada boca fechada era uma espera velada pela chance de mesma Projeção.
As bocas criavam o círculo social e as bocas mordiam as portas de banheiros, arranhando com os incisivos a madeira velha e pintada de Vermelho.

Senti o chão abaulando, como se sendo erguido pela terra num fundo de garrafa. Meus braços eram compridos e estavam esticados ao infinito pela Visão. Cada unha media cinco metros. Senti a madeira familiar de meu Trono abaixo de minha palma direita, enquanto acariciava os minúsculos lábios daqueles projetos de Vida com os dedos longos da mão Esquerda. Escolhendo. Sentindo.

"uma vez, um certo escritor contemporâneo declarou que Todos os Prazeres são Orais", falei para mim mesmo, enquanto começava a sentir a Mastigação Incessante brotando como um cogumelo acima de meu umbigo.
Som de unha na madeira.

Um comentário:

Panda disse...

Li.

Espero por uma cópia autografada.


PS: Tá foda, mas a dos corredores que se bifurcavam ainda é minha favorita.